sábado, 7 de setembro de 2013

Dica de livro | Para Entender O Capital de Marx

 
 
Dos contemporâneos, David Harvey é um dos exímios pensadores do marxismo. Tanto que desenvolveu uma obra que retrata O Capital, Livro I, de Karl Marx. Trata-se do livro "Para Entender O Capital de Marx", que serve de referência para explicar os capítulos da obra de Marx, principalmente o primeiro, que é considerado o mais difícil de entender. O próprio autor concorda.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Espetáculo transporta o público até o início do século 20

Com uma xícara de café oferecida por uma imigrante espanhola, os espectadores são transportados ao início do século 20, tornando-se operário do Grupo Votorantim. Gelsomino Veneto, um dos personagens do espetáculo, é encarregado de chamar os espectadores - um a um – para fazer parte da fábrica. Na sede do grupo, Veneto interroga, de forma intimidadora, o futuro operário da empresa. Ao passar pelos questionamentos, uma das atrizes o direciona a um dos assentos do Espaço Cê.

Todos acomodados, Veneto passa o vídeo “Sociedade Anonyma Fábrica Votorantim, de Arnaldo Pamplona, com cenas de 1922” e, em seguida, uma das personagens explica a estrutura do vilarejo operário, sobretudo como funciona o bairro da Chave. Feitas as primeiras considerações, as luzes do espaço são apagadas, simulando a hora de dormir. Minutos depois, a porta da sede do coletivo é aberta e, por ela, vem um clarão, aparentando ser o amanhecer. “Acordem. Está na hora de trabalhar”, dizia o personagem.

Enquanto o espetáculo estava sendo realizado, crianças e adultos se divertiam batendo uma bola no campo do Grêmio Desportivo Cachoeira. Voltando às cenas. Fomos levados à inauguração da linha férrea, que seria a locomoção dos operários. A seguir, uma das atrizes nos leva para conhecer o trajeto da linha férrea. Foi uma caminhada até chegar a uma escada, que dá acesso a uma das ruas do bairro da Chave, uma das mais antigas de Votorantim. Lá, conhecemos a rotina das mães para cuidar dos seus filhos, enquanto os pais iam trabalhar para ganhar o sustento da casa.

Também encontramos um casal, que acabara de chegar à comunidade, para começar uma vida em família - como era de costume na época. Mas antes de entrar na residência, pessoas foram expulsas dando lugar ao casal. Tais pessoas estavam por dentro de uma organização anarquista que, por sinal, na região, era uma das maiores organizações do País.

Nessa cena, destaca-se algo que veio a agregar ao Coletivo Cê: os musicais. Deu mais “corpo e alma” às cenas do espetáculo. Ficaram ainda mais atraentes. Antes de prosseguir para o próximo ato, o homem, que havia chegado com a mulher no vilarejo operário, vem até a direção dos espectadores e grita: “Nasceu, minha filha nasceu. Ela se chamará Anarquia”. Andando pelas ruas da Chave, é vista como era a forma de trabalho na época. Era normal crianças trabalharem juntos com os pais, sem limite de jornada de trabalho. Inclusive, na cena, a Anarquia, que tinha 5 anos de idade, já trabalhava no Grupo Votorantim como operária. Fazia o mesmo serviço de um adulto.

Greve. Depois de ficar esgotado com tantas horas de trabalho e sem descanso, é organizada a primeira greve entre trabalhadores, a fim de amenizar a situação. A organização era feita em residências dos próprios trabalhadores. Nessa hora, uma pessoa estava infiltrada na moradia para ouvir o que os trabalhadores estavam falando sobre a fábrica. Logo foi expulsa.

A seguir, outro musical marca a cena da peça. O ator Hércules Soares, de burguês, conversa com o proletariado dizendo ser amigo dele e comenta estar preocupado com a situação dos colaboradores da empresa. Em outra passagem do espetáculo, denominada como “Povo às ruas”, retrata o processo de emancipação. No improviso, os músicos mexiam com o público para cantar uma canção em alusão à emancipação. O sim vence e todos vão às ruas comemorar, pois Votorantim é agora, de fato, um município e não está mais ligado a Sorocaba.

Enchente na Chave. Na história do bairro houve duas enchentes: uma em 1929, outra em 1982, que é contada no espetáculo, o que levou vidas e memórias dos moradores. . Na passagem a seguir, os atores contam a saída da fábrica Votorantim do bairro e retratam sobre as mudanças que a comunidade teve. Com isso, os residentes começaram a ter pobreza, conflito familiar e medo de mudança – de sair de um local que eles próprios construíram.

A Era pós-moderna. Com a chegada do século 21, os atores encenam algo que foi desenvolvido na metrópole e que veio até as cidades do interior: a tecnologia. Enquanto a personagem rebolava ao som do Funk Carioca durante um churrasco na laje, ela tirava fotos para depois postar na Internet. Mesmo agregando valores da capital, os moradores não deixam a “cultura local” desmanchar no ar. Isto é visto nas casas geminadas, que até hoje permanece no bairro da Chave.

Depois de percorrer praticamente por todo o bairro da Chave, voltamos à sede do coletivo para ver o lançamento de uma obra, que descreve a história de Votorantim e da Chave, feita pela Anarquia. Lembra-se dela? Ela cresceu e fez um livro. Um dos personagens vem até a direção de Anarquia e discorre: “Não há como explicar a história da cidade e, principalmente, do bairro da Chave, em cem ou mil páginas”. “Eu consegui resumir em 100 páginas a nossa história”, responde Anarquia.

Por fim, o espetáculo se encerra na Cachoeira da Chave, em que um homem tenta abusar sexualmente de uma mulher. Mesmo avançando um século, alguns episódios que aconteciam no início do século 20 ainda acontecem atualmente. Na medida que o homem tentava tirar a roupa, a moça segurava um espelho, simulando o reflexo que acontece na sociedade.

O espetáculo é dedicado à memória de Mariana Alves, que fazia parte do Coletivo Cê. Ela foi vítima de um acidente de trânsito no ano retrasado.

Espetáculo Desmedida, do Coletivo Cê

As apresentações fazem parte do Projeto “Botu-ra-ti: resgatando a memória e a cultura do povo Votorantinense”, realizado com o apoio do Governo do Estado de São Paulo, Secretaria de Estado da Cultura - Programa de Ação Cultural - 2012.
De 7 de setembro a 20 de outubro, aos sábados e domingos, às 17h
De 26 de outubro a 1 de dezembro, aos sábados e domingos, às 18h - por conta do horário de verão
Agendamento com Gelsomino Veneto (www.facebook.com/gelsomino.veneto)
Mais informações: www.coletivoce.com.
Entrada: Pague quanto puder
Em caso de chuva, não haverá apresentação